Fix Me || Decimo sexto Capitulo.



.Thinking About Her.
.Kaya.

“Estive pensando nisso.
A maneira que você explode minha mente
Porque soa diferente quando você diz meu nome?
Porque eu te ouço falando dela nos seus sonhos?
Não me fale sobre isso.
Continue soprando minha mente.
Sem conversa.”
(The Vamps - Hands feat. Sabrina Carpenter & Selena Gomez - Perfect. Adaptados.)



     Andei da estação de trem até em casa. Eu poderia dizer que foi uma caminhada voltada para clarear os pensamentos, mas quando pus o pé dentro do meu apartamento eu só conseguia pensar em como as coisas tinham sido perfeitas até aquela ligação.
     O tempo pareceu parar enquanto estava com ele, e agora percebo que passamos horas na companhia um do outro. Foi tudo tão fácil.
     Agora estou aqui, apenas me sentindo muito patética.
     Retiro as minhas roupas de Ioga, tomo um banho, e quando faço isso só consigo imaginar em como Niall esteve nesse banheiro de manhã, usou meu xampu... Meu sabonete.
     Quando saiu, ponho meu pijama, sei que não vou sair para lugar nenhum, nem tenho vontade de cozinhar, então ligo para um restaurante de comida vegana.
     Termino a minha noite deitada no meu sofá, que serviu de cama para que ele dormisse na noite passada, usando um conjunto ridículo de flanela com estampa de fruta. Nem mesmo minha gata quer ficar comigo. Estou com tanta preguiça que nem tenho coragem de tirar as embalagens em que a comida veio.
     E quando estou pronta para me jogar em minha cama e fingir que está tudo bem meu telefone toca.
     O número que pisca na tela e dele. Fico alguns segundos olhando para o telefone tentando me decidir de devo ou não atender.
     —Oi. - digo quando decido atender.
     —Oi Kaya. - a voz dele está daquele jeito da noite anterior, ele andou bebendo.
     Então ele me deixou sozinha para beber?
     —Porque você está me ligando?
     —Eu disse que ia ligar. - sua voz tem um tom óbvio, e fico me sentindo meio boba.
     —O que você quer Niall?
     —Pensei em te convidar para vir aqui em casa.
    Empaco, olhando para as minhas roupas de dormir e tentando decifrar Niall. Já são quase onze da noite, ele teve a tarde inteira para me ligar, e decide logo por esse horário?
    —Niall... Olha as horas.
    —O que tem?
    —Eu to de pijama. - digo como se fosse claro.
    —Vem com ele. Eu tenho certeza que vou gostar.
    Quando ele diz isso quase posso projetar seu rosto, me dando aquele sorriso de lado.
    —Eu não vou sair a essa hora de casa, apenas porque você quer. – dou de ombros como se ele pudesse me ver.
    Mas eu to sozinho Kaya. - Niall diz como se fosse a melhor justificativa.
    —Eu também estou sozinha.
    Ele ri e em seguida solta um palavrão.
    —O que foi?
    —Eu bati o dedinho do pé! – ele exclama e é a minha vez de rir.
    —Você bebeu tanto assim?
    —O idiota do Harry queria provar que ele tinha um pau no lugar da vagina e eu me fodi. – estreito os olhos.
    —Harry? O Harry que eu conheci?
    Pergunto por que não consigo imaginar aquele Harry que passou a noite bebendo água tomando um porre.
    —Esse idiota mesmo. Kaya! – ele chama meu nome como um gemido de birra.
    —Niall! – imito, ele choraminga de novo.
    —Você ta tirando com a minha cara?
    Começo a rir, porque ele realmente parece ofendido.
    —Sim. – murmuro entre risadas.
    —Me ajuda Kaya! Eu não quero ficar sozinho. 
    —Porque você não chama um amigo?
    —Eu não quero eles, quero você.
    Ouço outro barulho, como se ele tivesse se jogado sobre a cama ou sofá. Ele não sabe, mas o que acabou de falar me fez sentir algo que nem mesmo sei decifrar.
    —Niall eu não posso. – começo a negar novamente, mas ele resmunga antes que eu fale mais.
    —Eu vou mandar o endereço, por favor, vem! Estou te esperando.
    —Niall... - começo a falar, mas ouço a ligação sendo encerrada, afasto o celular do ouvido e confirmo, ele realmente desligou na minha cara.
    Niall quis que a última palavra fosse dele, e agora não sei o que fazer. Fico olhando para a tela do celular esperando ele ligar novamente, pode ser que a ligação tenha caído, mas então a tela brilha e a notificação de mensagem chega.
    A primeira mensagem, contem o endereço dele, e a segunda um simples “Estou te esperando, preciso de você”.
    Não e tão longe daqui. Talvez ele realmente esteja precisando de mim. Eu não sei se quero ir, mas e se algo acontecer?
    Droga!
    Apenas pego a minha carteira e ligo para a companhia de táxi, eu poderia ir a pé, mas isso tomaria tempo. Cerca de dez minutos depois ouço a buzina do carro e desço as escadas depressa, passo o endereço para o taxista que me encara pelo espelho do carro com o cenho franzido. Então percebo, eu realmente estou indo de pijama.
    Passo a viajem inteira olhando para a janela do carro, vendo as luzes da cidade, as pessoas nas calçadas, e tentando entender porque estou cedendo novamente, mas então o carro para em frente de um prédio e eu varro meus pensamentos para debaixo do tapete.
    Pago a corrida e desço, praticamente voo para dentro do prédio, porque as ruas de Londres estão quase que congelando. No Hall, atrás de um balcão tem um homem rechonchudo.
    —Boa noite. – dou meu melhor sorriso, o cara nem desvia o olhar do pequeno celular entre suas mãos.
    —Eu gostaria de fazer uma visita.
    —Qual apartamento? Qual e seu nome?
    —Andar 10, número 1. Meu nome e Kaya – o cara, gira na cadeira e pega o telefone pendurado na parede, disca alguns números.
    —Boa noite Mr. Horan tem uma... - pela primeira vez ele olha para mim. — Uma mulher aqui, k... - ele me olha como se perguntasse novamente meu nome.
    —Kaya.
    —Isso, tal de Kaya... - ele fica em silencio e depois diz um simples “Ok”. Encerra a ligação e me olha novamente, dessa vez me analisando bem, bem ate demais.
    —Pode subir. O elevador fica logo ali. – o cara aponta para a direção de um corredor, dou um meio sorriso e vou andando o mais rápido possível. Imaginar que ele está me olhando por trás deu medo.
    As postas do elevador estão abertas, eu subo ate o décimo andar sozinha, acho que pela hora a maioria dos moradores, estão dormindo, é quase meia noite. Quando as portas se abrem na minha frente há um enorme corredor branco com luzes amareladas, o ambiente e comum a outros prédios, apenas não sei se imaginava Niall morando em um lugar assim. Tão... Certinho?
     O apartamento dele e o primeiro do corredor. Fica ao lado esquerdo, não tem tapete de boas vindas como nas outras portas, apenas uma campainha e o número um gravado acima. Fico algum tempo apenas parada encarando a porta. Talvez não deva ter sido uma boa ideia vir aqui, mas não posso dar meia volta e ir embora.
     Engulo a seco e toco a campainha, ouço barulhos e a voz dele grita um “espera”.  Mais barulhos e então um Niall todo desajeitado só de cueca surge pela porta.
    —Você veio. – ele abre aquele sorriso, sem malicia, apenas feliz.
    —Você disse que precisava de mim. – dou de ombros me sentindo meio boba pela terceira vez no dia.
    —E como preciso. – Niall me estende a mão, reviro os olhos, mas aceito que ele guie para dentro.
    Por dentro tudo e mais surpreendente ainda, porque simplesmente não há quase nada. Um sofá, sem nenhuma almofada ou um tapete no chão combinando, tem uma televisão acoplada na parede, e só. Tudo parece tão monótono. Monocromaticamente branco. Quase que sem vida.
     A cozinha fica depois de um balcão, como na minha casa, apesar de aqui ser menor, parece bem maior por não ter nada que preencha por total.
     —Você não tem tapete? – pergunto e Niall para do meu lado franzindo as sobrancelhas.
     —Acho que não ou será que ele sumiu? – a piada e sem graça, mas ele ri como se fosse à coisa mais engraçada do mundo. Niall não está bêbado como na noite passada, mas esta quase.
     —Você me parece bastante bem, precisa da minha ajuda pra que?
    Ele sorri novamente, dessa vez com malicia, Niall esta muito confortável do jeito que esta, apenas de cueca na minha frente do meio da sua sala. Eu tenho que me forçar a não olhar por muito tempo para ele, ou acabarei descendo minha visão para lugares proibidos.
    —Eu não queria ficar sozinho. Isso e uma ajuda. – e quando termina de dizer ele ri de novo. —           Quer algo pra beber?
     —Você não esta bebendo mais, não é?
     —Só água.
     —Ok. Quero um copo também.  – ele concorda com vários acenos de cabeça e vai andando meio que torto ate a cozinha. —Então você saiu para beber com o Harry?
     O que eu realmente quero saber e se Eseêne estava lá, mas sinto que a pergunta seria no mínimo muito intrometida.
     —Er, sim e com o Louis e Matt também.
     —Uma noite dos caras? Que nem nos filmes?
     Ele ri de novo.
     —Tipo isso, só que Harry e Matt são mais moças do que caras. Então Louis e eu ficamos com o papel de machões da noite.
     —Conseguiram?
     —Quem dera, Louis tem uma voz muito fina e eu fico porre mais rápido que qualquer um.
     Ele diz palavra por palavra sem rir, nem se percebendo que isso sim tem toda a graça.
     —Eu nunca ouvi você falar do Louis.
     —A gente não se vê muito, ele e professor.
     —Dois tatuadores, um professor... Que grupo.
     —Já disse que Harry e psicólogo?
     A cada momento uma nova surpresa.
     —Não, mas isso e uma surpresa entanto. – ele ri confirmando com a cabeça me dando o copo de água.
     —Você veio mesmo de pijama. – Niall diz e eu me autoanaliso imediatamente.
     Estou com uma blusa de mangas compridas e calças, e um conjunto.
     —Você disse que ia gostar. – dou de ombros e ele ri de novo, sinto que ele vai rir de tudo o que eu disse essa noite.
     —Eu pensei em algo mais sexy, mas isso e mais engraçado.
     —Ora, você esta de cueca! – aponto para a sua boxer branca.
     —Eu to na minha casa, e pra tirar as minha calça foi difícil, imaginar por outra?
     —Você precisa dar um tempo da bebida.
     —Eu não bebo sempre. – ele se defende.
     —Já te vi bêbedo, duas noites seguidas.
     —Foram coincidências. – Niall ergue a mão apontando o dedo para mim.
     —Vou fingir que acredito.
     Niall fica calado, olhando para algum ponto no chão, e o silencio se instala entre nós dois, nada desconfortável, e apenas um silencio normal.
     —Então você me chamou aqui para ter conversas baratas? – digo tomando um grande gole da minha água, que eu já nem sei mais se quero beber.
     —Seria por ai.
     Olho ao redor tentando disfarçar o sorriso.
     —Isso não e nada do que eu imaginei. – digo.
     —O meu apartamento? – ele pergunta e eu aceno positivamente. —Por quê? O que você imaginava?
     —Não sei. Um lugar com desenhos? Talvez um pouco mais bagunçado?
     —Eu não sou um estereótipo Kaya.
     Ele me pega de surpresa, e isso e verdade. Niall e um tatuador com a pele lisa sem nenhum risco sequer, a casa dele e metodicamente arrumada, e ao mesmo tempo ele parece uma desordem.
     —Aliais você nunca viu meu quarto. – ele me traz de volta para a nossa conversa.
Niall expõe um sorriso malicioso nos lábios, de repente ele se levanta e ergue a mão pra mim.
     —Vem!
     —Pra onde?
     —Conhecer meu quarto ue.
     —Eu não vou pro seu quarto.
     —Por quê? Eu já entrei ate no seu banheiro, porque você não pode entrar no meu quarto?
     —E diferente.
     —E uma desculpa, eu não vou fazer nada que você não queria Kaya. – seus olhos contem verdade, e mais uma vez eu vou com ele.
     Ele me guia ate um pequeno corredor e me puxa por uma porta, ele liga as luzes e eu vejo seu quarto por inteiro. Tem uma cama enorme no meio, ao lado direito uma porta de vidro com sacada, no quarto tem mais duas portas, mas o que realmente me chama atenção e a parede onde a cama fica ela e literalmente toda desenhada.
     —Você que fez? – pergunto, mesmo que seja claro que foi ele.
     —Demoraram uns seis meses pra fechar, são todos meus, alguns desenhos que fiz tatuagens e outros pessoais.
      Eu me aproximo da parede, exatamente como fiz com o quadro na sua sala do estúdio. São muitos desenhos um do lado outro, e cada vez que olho para um canto e forço a vista vejo pequenas frases ou coisas novas pequenas.
     —Incrível. – sussurro, ele ri levemente atrás de mim.
     —A sua tatuagem esta ai. – ele diz e eu arregalo meus olhos.
     —Onde? – me viro para a parede procurando, caçando, mas são muitos desenhos.
     Sinto quando ele se aproxima de mim por trás.
     —Me da sua mão. – Niall pede e eu ergo, ele pega minha mão e me faz tocar a parede, percorrendo a superfície até a frase.
     Ela esta ali. Lights will guide to home, And ignite your bones, And I will try, to fix you.
     Letras pequenas, iguais a minha tatuagem.
     —O que você acha?
     Eu fico sem palavras, sentindo algo dentro de mim, e minha voz parece presa em minha garganta.        Engulo a seco e dou um sorriso, forçando a nossa distancia.
     —Lindo.
     Ele esta sorrindo pra mim, e de novo me sinto desestabilizada, como no trem. Niall se senta na ponta da cama e joga o resto do corpo no colchão.
     —Vem cá. – ele bate no colchão ao lado dele, hesito um pouco, mas em seguida vou e me deito ao lado dele.
     Estamos apenas aqui, olhando para o teto branco, ate que sinto seus dedos puxarem os meus para entrelaçar as nossas mãos.
     —Eu deveria ir.
     —Por quê? – Niall imediatamente vira a cabeça para me olhar, e apenas quando faço o mesmo percebo o quão perto estamos um do outro.
     Ficar tão perto, dividir espaços pequenos com ele e o mesmo que perder o ar.
     Engulo a seco, volto a encarar o teto.
     —Já esta tarde.
     —Porque você sempre arruma desculpas Kaya, isso não precisa ser difícil.
     Niall puxa meu rosto de volta para encara-lo. E na luz do quarto dele vejo outros tons de azuis, e 
experimento um novo sabor dos seus lábios quando ele me beija castamente.
     Sua mão toca a minha bochecha, a outra aperta a minha. Seus lábios cobrem os meus, nossas respirações se misturam, narizes se tocando e a sensação que percorre meu corpo inteiro quando ele me puxa para cima de si.
     Meu corpo toca a lateral do dele, eu sinto pedaços da sua pele em mim, o ar falta, eu me afasto, ele não me olha diretamente, seus olhos estão em meus lábios. Sinto-me ofegante e quente.
     —Niall... - sussurro deixando a frase morrer na ponta da minha língua, estou sem forças para tentar recusar isso.
     —Não vai embora, só fica aqui. – agora ele me olha diretamente. Fixo e confiante, eu vejo a suplica, ele parece ter medo. Do que?
     —Tudo bem. – concordo com um aceno de cabeça. —Mais não podemos...
     Ele nem me deixa terminar a frase, sorri e me afasta novamente.
     —Vamos apenas conversar. Mas me deixa por uma roupa. – ele se vai e eu fico deitada apenas digerindo.
     Ele volta e conversamos sobre amenidades o resto das horas, ele me conta algumas historias da infância, sobre a escola, o inicio da carreira de tatuador, eu quase não falo porque me sinto interessada em tudo o que ele esta disposto a dizer sobre si, ate que pego no sono, ou talvez ele tenha pegado primeiro. Não sei ao certo.
     Quando acordo, estou deitada com a cabeça sobre o seu braço, ele não me toca.
     Não tive tempo para sonhos, mas Niall sim. Quando acordo ele esta ao meu lado surrando coisas desconexas. Eu me sento sobre o colchão, aproximo meu rosto do seu tentando decifrar qualquer coisa.
     —Eseêne.
     Ele murmura entre resmungos, e imediatamente me sinto novamente como uma mera intrusa.              Afasto-me, não quero ouvir mais nada, mas também dificilmente conseguiria dormir novamente nessa cama.
     Eu me levanto no meio da madrugada, no meio do quarto escuro eu saio para a sala, procuro por um tempo pela chave da porta e quando acho simplesmente saio da casa dele em disparada.
     Desço no elevador, sozinha novamente, na portaria tem um cara diferente, ele me olha com uma careta, mas não faz perguntas. As ruas estão desertas, mas esta clara como na hora em que vim para cá e igualmente fria.
     Penso em chamar um táxi, mas na pressa de vir acabei por deixar meu telefone sobre o sofá em minha casa. Então eu ando novamente como horas atrás quando sai da estação de trem, quando ele me deixou sozinha para sair com ela, a diferença e que agora eu o deixei pensando nela.


Fix Me || Décimo Quarto Capitulo.

.Niall.
.Tequila? Tequila.

     Kaya é um enigma, nunca pensei que entrar em um trem apenas para dar uma volta seria algo que eu gostaria de fazer, mas eu gostei. Foi, interessante, nós conversamos sem ser interrompida, a paisagem desfocada das janelas era relaxante e não distraía, minha atenção estava toda nela e a dela toda em mim.
      O beijo ainda ronda minha mente enevoada, sua boca na minha, minha língua na sua, minha mão em sua nuca, seus lábios entre meus dentes. Aquilo foi mais intenso do que eu esperava, como uma descarga elétrica direto no meu peito, despertando uma sensação a muito perdida. Isso me assusta, mas me aquece de forma que estou rindo e ela sorrindo para mim.
        Assim que descemos na estação, Kaya parece ansiosa e animada, fica mais uma vez puxando um fio de sua blusa. Como ainda estou com a sacola de lixo, a deixo e ando até a lixeira mais próxima. Meu celular vibra no bolso, o pego, o nome de Éseêne brilha na tela, deslizo e levo até a orelha.
     —Niall? – sua voz ainda me desestabiliza
    — Quem mais? – reviro os olhos.
    —Cavalo.
    —Você ligou para o meu celular, quem mais atenderia?
    — Suas putas?
    —Minhas putas não têm acesso ao meu celular.
      Ouço a risada de Éseêne e sei que ganhei. Permito-me um pequeno sorriso.
    —Preciso conversar com você. – ainda posso sentir o sorriso em sua voz – Tá livre hoje?
       É como estalar os dedos na minha cara, ergo os olhos para Kaya, que me olha curiosa, um pequeno vinco se formou entre suas sobrancelhas, começo a caminhar de volta para ela.
    —O que você quer fazer? – pergunto.
    —Pensei, em irmos a um bar, só nós dois, você precisa relaxar um pouco.
          Já estava com planos de convidar Kaya para me acompanhar, mas Éseêne quer conversar comigo, sozinha.
     —Pode ser.
     —Naquele bar, duas ruas depois do Laboratório. – ela espera para ver se vou pedir para trocar o lugar – As quatro, ok?
    —Tudo bem, as quatro então. – merda, eu iria ao inferno se ela pedisse.
      Kaya parece estar olhando para todos os lugares menos para mim.
    —Te espero lá.
    —Até, Éseêne. – devolvo o celular ao bolso, mas antes dou uma olhada no relógio, faltam 40 minutos.
      Encaro o chão por alguns segundos pensando em como vou encerrar esse momento com Kaya, estávamos tão à vontade e agora o clima é extremamente desconfortável. Levanto a cabeça e seus olhos âmbar já esperam pelos meus.
    — Então, vamos? – forço um sorriso.
    —Para onde?
    —Para sua casa. Eu te levo lá, mas depois tenho que sair. – sua expressão desmorona, me atingindo com força.
     Penso que ela deve ter ouvido parte da conversa, talvez ela esperasse que eu a chamasse.
    —Ah sim. – ela morde os lábios com força e suas bochechas assumem um tom rosado, eu quero me socar nesse momento.
   —Então... Vamos? – aponto para o grande arco que leva até a saída.
   — Ah... err... Eu esqueci, tenho um encontro com a minha mãe aqui perto. – sua voz falha e seus olhos piscam com rapidez.
      Fico imaginando se ela inventou isso para evitar que eu a levasse para casa.
-- Ahm, tudo bem, você me liga depois? – Babaca – Melhor, eu ligo. – Ela assente – Certo, então até mais, Kaya.
       Sem saber como me despedir depois dessa cagada, me aproximo e a envolvo com os braços, deixando um beijo em sua bochecha.
       Idiota, minha língua estava dentro da boca dela a pouco tempo atrás e agora eu me despeço com um maldito beijo na bochecha. Por alguns instantes penso em dizer não para Éseêne pela primeira vez e ficar com Kaya, mas ela tem um encontro com a mãe e não devo atrapalhar.
       Pelo menos é essa desculpa que dou para o meu consciente quando abro um pequeno sorriso e me viro para a saída.
...
        Entrei em um dos taxis dispostos na frente da estação e dei o endereço da minha casa, preciso trocar de roupa e tomar um banho decente. Faltando dez minutos para o horário que marquei com Éseêne, estou pronto colocando um pouco de perfume atrás das orelhas e nos pulsos.
         Ligo para o taxi e aguardo ele chegar, sair com Éseêne é certeza de que terá bebida e de que eu sairei no mínimo alterado. Confiro minha carteira, documentos, dinheiro, cartões. Recolho o molho de chaves em cima da mesa e distribuo a carteira, as chaves e o celular nos bolsos da calça.
          Ouço a buzina do carro e desço após trancar a porta. O motorista me aguarda entrar no carro e eu dito o endereço para ele. Cerca de 20 minutos mais tarde o taxista para o carro na frente do bar, Éseêne está encostada na parede próxima a porta de vidro. Analiso o taxímetro e entrego o dinheiro redondo pra ele, deixando que fique com o troco.
         Saio do carro e Éseêne vem na minha direção sorrindo, me esforço para sorrir de volta, ela está linda como sempre e me desestabiliza.
     —Oi! – ela me abraça, seu perfume me invade.
     —Oi. – minha garganta está tão seca quando meu tom de voz. – Vamos entrar?
           Estávamos parados em frente ao bar, nos encarando.
    — Sobre isso... – ela solta aquele sorriso amarelo que eu conheço. – Eu acabei de receber uma mensagem do laboratório... Preciso ir.
    —O que? – sinto meus olhos embaçarem – Por que não me ligou desmarcando? Sabe quanto custou o taxi até aqui? – como se o dinheiro do taxi fosse meu maior problema aqui.
    — Calma! – ela pousa a mão no meu peito – Como eu não queria desmarcar com você, chamei, Matt e Louis para virem te encontrar, o Harry decidiu vir também!
    —Éseêne... – meus dedos correm o cabelo.
    —Eles já estão lá dentro, vai ser ótimo. – ela abre um sorriso radiante – Um tempo só para os caras. – Ela sacode meus ombros, animadas.
    —Em algum momento você pretendia se encontrar comigo sozinha? – cerro os olhos para ela.
     —Ér...
     —Merda, Éseêne. – me afasto um passo – Você tem que parar com isso, parar de manipular as pessoas desse jeito.
    — Se eu tivesse dito que era a noite dos caras, você teria vindo?
     Obvio que não, eu estaria com Kaya agora.
    — Talvez. – minto.
    — Só entra e se distrai um pouco. – Ela se aproxima mais – Por favor.
      Ela não espera minha resposta, se ergue e deixa um beijo na minha bochecha e segue para sua moto parada próxima ao meio fio.
       Respiro fundo, pensando que deixei Kaya, fiz aquela cena toda a troco de nada. Sacudo a cabeça e entro no bar.

..

   —Qual foi, Niall? – Matt chama minha atenção com um empurrão no braço. – Por que toda essa cara de bunda?
         Reviro os olhos e tomo mais um gole da minha cerveja, estamos todos ao redor de uma mesa redonda e pequena, algumas garrafas vazias se juntam sobre o tampão, pois o maldito garçom só sabe trazer e não leva-las. Ele tem evitado vir a nossa mesa, parece nervoso com Matt, não para de olha-lo sempre que o chamamos, Matt corresponde.
   —Não enche, porra.
   —Nossa, pensei que sua menstruação já tinha descido esse mês. – a voz fina de Louis ecoa pelo vidro quando ele fala antes de encostar o gargalo na boca e vira-lo.
   —Oh meu Deus, não me diga que está atrasada! – Matt leva as mãos à boca de modo dramático.
   —Niall James Horan, já não conversamos sobre os métodos contraceptivos? – Harry elava a voz, mas engasga ao tentar segurar a risada – Você me envergonha.
        Por mais chateado que eu esteja por ter deixado Kaya daquela maneira, esses caras não têm nada a ver com isso, eles são meus amigos, a única culpada dessa porra toda é Éseêne e ela não está nem aqui.
   — Não há nenhum problema com meu ciclo menstrual, obrigada. – Eu finjo jogar o cabelo por sobre os ombros.
        Mantemos-nos em silencio pressionando os lábios por alguns segundos, até que ao mesmo tempo deixamos as risadas fluírem. Harry ri tanto que os cantos dos seus olhos começam a lacrimejar.
   —Agora sim. – Matt declara com algumas risadas. – Tu tava aqui, mas sua alma estava vagando em algum lugar.
   —Acho que devemos beber algo mais forte em respeito a alma do Niall que voltou. – Louis declara já esticando o braço para chamar o garçom.
   —Tequila? – eu pergunto.
   —Tequila. – Matt e Louis respondem em uníssono.
   —Acho melhor continuarmos na cerveja. – Harry se manifesta, mas mal levanta a voz.
   —Por que o Harry e sua vagina estão dando opinião? – Louis nos encara – Talvez possamos pedir chá com biscoitos para vocês. – ele oferece de modo sério, enquanto eu tenho que me segurar para não rir.
   —Protesto! – ergo a mão – Tem muitas vaginas por ai, que bebem muito mais do que nós todos juntos. Não as ofenda.
   —Perdoe-me, permita-me corrigir meu erro. – Louis sacode a cabeça. – Por que o Harry e seu pau atrofiado estão dando opinião?
   —Melhor. – Matt diz.
        O garçom se aproxima e seus olhos travam no meu parceiro de estúdio mais uma vez, creio que por enquanto somente eu e Matt percebemos, já estou acostumado aos seus flertes.
   —Tequila. – Matt diz devagar e o garoto que mal parece ter idade para beber claramente começa a suar. – 3 doses e meia.
   —Tr-três e meia? – o menino gagueja e eu fico com pena de seu nervosismo.
   —Nosso amigo Harry, não aguenta uma dose inteira. 
   —O amigo Harry, no caso eu, vai querer duas doses. – Harry levante o nariz, o garoto não sabe para onde olhar, seus olhos correm por toda a mesa.
   —UAU – Louis diz ironizando
   —Cinco doses de tequila então? – ele pergunta.
   —Pode trazer oito, querido. Vamos tomar duas, cada um. – Matt pisca para ele.
...

   —Vou fazer a pergunta que creio que ronda a cabeça de todos aqui. Menos talvez a do Matt. – Louis diz enrolado.
       Após as doses de tequila, voltamos para a cerveja, isso nunca dá certo, estamos todos alterados. E já levantei para mijar umas quinze vezes.
   —Pelo visto essa pergunta envolve uma vagina.
   —Uma vagina complicada, caro amiga. – Louis junta às mãos desajeitadamente em frente ao rosto, numa postura de discurso que me faz rir. – Como, você – ele aponta para Harry. – O senhor pau atrofiado, conseguir domar a Senhorita Éseêne?
   —Eu me faço a mesma pergunta todos os dias. – eu digo para mim mesmo, mas Matt me lança um olhar solidário, sei que ele ouviu.
   —Isso é meio que uma prova que meu pau não é atrofiado, na verdade ele faz um bom trabalho. – Harry ri.
   —Essa não foi à pergunta.
   —Um bom mágico nunca conta seus segredos. – Harry ajeita o cabelo e ergue as sobrancelhas.
   —Isso é desculpa pra pau pequeno. – Matt se manifesta e nos deixa surpresos – O que foi? Vocês se esquecerem de que de pau eu entendo?
        Mais uma vez estamos rindo escandalosamente.
   —Meu pau não é pequeno. – Harry se emburra como uma criança.
    —Maior que o meu, não é.
         Eu e Louis nos entreolhamos e começamos a rir mais uma vez.
    —Acho que devemos chegar a um consenso. – Harry bate na mesa, de todos nós ele é o mais alterado. – Nossos paus são iguais. Fim.
   —Já deu de conversa de pau por hoje, não? – eu bebo mais um gole da cerveja, ela atinge diretamente meu cérebro, então a coloco na mesa encerrando minha cota de álcool.
   — Você, Niall, tem usado o seu? – eu seguro o riso mais uma vez, só Louis consegue ser tão direto e se manter sério.
   —Poderia estar usando-o hoje, se não tivesse sido manipulado a vir pra ca. – sei que estou mentindo, nem ao menos esperava levar Kaya para a cama, na verdade eu só queria ter passado mais tempo com ela, talvez ter pego outro trem.
     Oi? Já atingi toda essa quantidade de álcool?
   —Parece que aconteceu com todo mundo. – Louis balança a cabeça – Será que alguém aqui consegue dizer não para a Éseêne.
        Matt ri alto.
   —Aquela mulher é impossível. – ele enxuga os olhos – Desistam.
   — Desistam. – Harry mexe a cabeça afirmativamente.
   — Mulher é uma coisa complicada demais. – Louis chega a essa conclusão e se vira para Matt – Como é viver sem ter que lidar com elas?
  —Vocês estão se achando super descomplicados, não é seus cuzões? – Matt faz uma cara de desgosto. – Nós somos a pior raça.
   —Falando em raça, adotei um cachorro. – Harry declara sem mais nem menos.
        Louis engasga com a cerveja e um pouco escorre pelos cantos da sua boca.
   — Você o que?
   —Adotei uma cadela. – Harry parece contemplativo. – Gray, o nome dela.
   —Você é aleatório demais. – eu começo a rir da situação.
       O assunto mudou assim drasticamente, e sem percebermos estávamos falando de raças de cachorros, gatos, e sobre um porquinho da índia que Louis teve na infância. E assim fomos pelo resto da noite, eu parei com a cerveja e fiquei com uma garrafa de água, apenas Matt me acompanhou, Harry e Louis continuaram bebendo, e no fim tivemos que ficar de baba para os dois. Deixando claro que nem eu nem o Matt estávamos totalmente sóbrios, na verdade não estávamos nada sóbrios.
   —Eu vou indo. – Digo para Matt quando meu taxi para no meio fio.
   —Eu vou ficar mais um pouco. – ele pisca para mim e volta para o bar.
        Sei bem por que ele voltou, um sorriso brota no meu rosto e eu balanço a cabeça.

        Pobre garçom.

Fix Me || Décimo Terceiro

.Kaya.
.Train Ride.

"Beije-me como se quisesse ser amado
Estou me apaixonando pelos seus olhos, mas eles ainda não me conhecem
Então eu te abraço apertado para te ajudar a se entregar
Beije-me como se quisesse ser amado"
                         (Ed Sheeran - kiss me)



    “Diz para eles que eu fui dar uma volta de trem.”
    A frase ficou em minha cabeça ecoando, algo no modo como ele disse e me olhou me fez sentir tão bem.
    Eu estava parada na frente de uma banca, fingindo ler o jornal, mas na verdade estava prestando atenção em como o Niall ficava de costas. Ele estava na fila para comprar os tickets de trem. Parecia tão charmoso e descontraído, com as mãos dentro dos bolsos da calça, movendo a cabeça de um lado para o outro.
    Mal podia controlar o sorriso bobo, e novamente não sabia explicar porque eu estava assim ou porque eu cedia tão fácil quando se tratava dele, só sabia que estávamos na estação de trem indo sem rumo para algum lugar e por hora isso mais que servia.
     ***
    —Duas passagens de Trem para Grays. – Niall estava com os tickets entre os dedos e sorria divertido para mim. —Você tem cento e dois minutos ao meu lado para me falar sobre a sua vida inteira.
    —Minha vida e bem monótona. – digo dando de ombros.
    —Que bom porque eu adoro falar.
    Fiquei olhando para ele sem saber o que dizer quando a saída do nosso trem foi avisada pelos altos falantes.
    Andamos um do lado do outro em completo silencio ate o trem, demos os tickets à moça do embarque e entramos no vagão.
     —Papel e tesoura para quem fica com a janela. – Niall fecha a mão em punho e balança. Começo a rir.
    —Você pagou as passagens, eu fico com o lado do corredor.
    —Justo. – Niall se senta e eu vou para o lado dele. —Ainda temos cinco minutos antes de o trem embarcar.
    —Então temos cento e sete minutos. – ele ri.
    —Bem observado. – de repente encaro seus olhos e não consigo desfazer o contato.
    —O que foi? – Niall pergunta parando de rir aos poucos.
    —Nada. – digo desviando os olhos me sentindo envergonhada por ter sido pega no flagra.
    —Acho que a gente deveria ter passado na loja e ter comprado algo, a viagem vai ser longa.
    —Odeio salgadinhos, fazem tão mal a saúda.
    —Você não sabe o que e bom. – Niall diz balançando a cabeça. —Eu não consigo acreditar que você nunca tenha comido carne.
     —Eu não consigo acreditar que você estraga seu corpo comendo carne e, além disso, mata os animais. – rebato.
    —Eu nunca matei animal nenhum, vou direto à seção de congelados. – ele da de ombros e ri, eu tento me segurar, mas acabo falhando miseravelmente.
    —Então você de fato e uma britânica que nunca comeu Fish ‘n’ Chips?
    —Eu comi apenas os Chips, serve? – perguntei fingindo uma cara de culpada.
    —Não conta. Que bela nacionalista eu tenho do meu lado.
    —Você nem e britânico! – cutuco o braço dele.
    —Eu sou um  Británico-Irlandés. – ele argumenta
    —Pensei que irlandeses não gostassem desses termos.
    —Não tente desbancar meus argumentos.
    —Não tenho culpa se seus argumentos são fracos, senhor nacionalista.
    —Olha só o Trem começou a andar faz alguns minutos.
    Olho para a janela ao seu lado e vejo a paisagem passando em boros. Engatamos uma brincadeira tão descontraída que mal prestei atenção ao barulho do trem.
    —Então e melhor eu correr com minha historia de vida, nossos minutos estão passando.
    Niall abre aquele sorriso sem intenções, meu preferido, e por uma leve fração de segundos me pego jurando faze-lo sorrir assim mais vezes.

***
     —Então quando eu fiz 19 participei de uma viagem a Liverpool.
     —Eu amo Liverpool. – Niall diz.
    —Eu já tinha ido lá antes, com meus pais, para visitar museus. – solto uma risadinha. —Mas essa foi minha primeira viagem sozinha.
    —Eu fui a Liverpool pela primeira vez com Eseêne. – pisco atônita quando me lembro de Eseêne.
    —Você devem ser bem amigos. – comento relembrando dos dois na festa da noite passada.
    —De infância. – sua voz e nostálgica e há outro tom que não consigo decifrar. Percebo que esse assunto e delicado.
    —Vocês brigaram? – pergunto curiosa.
    —Talvez. - Niall solta uma risada anasalada sem graça seguida de um enorme suspiro. —E complicado.
    Ele da de ombros como se quisesse trocar de assunto. Fico curiosa para fazer mais perguntas, Eseêne me pareceu ser bem intima dele, e possível que tenham brigado depois que fui embora da festa? Imediatamente lembro a conversa que tive com Harry, noivo dela, e como ele pareceu chateado. Quero perguntar, mas me controlo para ficar calada, esperando o desconforto de dissipar.
    —A gente se conheceu quando me mudei para a casa ao lado da casa dos avós dela. – ele conta e fico surpresa por ele estar falando, permaneço calada. —Fomos a mesma escola, fizemos praticamente tudo juntos.
    Ouvi-lo dizer isso confirma meu pensamento sobre eles serem bastante amigos, mas então me passa pela cabeça que talvez eles sejam mais do que isso.
    —Ela e minha melhor amiga. – Niall confirma com a cabeça olhando para o nada, e eu não tenho coragem de questioná-lo sobre o grau de amizade deles.
    —Minha melhor amiga e minha mãe. – digo meio que tentando quebrar o gelo. Ele ri de mim. —O que foi?
    —Sua mãe não pode ser sua melhor amiga. – ele diz.
    —Como? Por quê?
    —Você não diz tudo para a sua mãe.
    —Digo sim.
    —Você não falou para ela sobre mim. – Niall diz com um sorrisinho presunçoso nos lábios, como se tivesse me pego com seus argumentos.
    —E porque eu falaria sobre você? – pergunto sustentando seu olhar, ele para e não diz nada fica apenas me olhando como se procurasse algo para falar.
    Nesse momento percebo que ele está tão perdido quanto eu em relação a nós dois. E se realmente existira um nós dois.
    Pisco e desvio o olhar, me perguntando como conseguimos entrar em assuntos tão extremos em questão de segundos.
    —Como está a tatuagem? – Niall pergunta com a voz saindo um pouco diferente. Hesitante talvez.
    —Está ótima, passo apenas a pomada. – comento tocando sobre a blusa de malha fina o local onde fica minha tatuagem.
    —O que seus pais acharam?
    —Então... - digo mordendo os lábios e ele me encara apreensivo, esperando que eu diga que talvez, eles não gostaram. —Eles ainda não sabem.
    Imediatamente ele explode em uma risada e eu vou junto.
    —Meu Deus, esta vendo? Eu estava certo! – ele consegue dizer entre os risos, e eu bato em seu braço olhando ao redor as pessoas encararem a gente com caras tortas.
    —Cala a boca!
    —Cala você Kaya sem amigos.
    —Qual e o seu problema? – pergunto tentando tapar sua boca que ria escandalosamente.
    —O meu? Nenhum você e que não tem amigos.
    —Eu tenho amigos, tá? – me defendo.
    —Então me cite um.
    Engulo a seco, procurando em minha memória alguma pessoa que possa chamar de amigo.
    —Evie!
    —Quem é?
    —Uma parceira de Yoga. Inclusive ela deve estar sozinha hoje no treino, já que estou aqui com você.
     —Me apresenta a ela que eu peço desculpas. – pisco algumas vezes me lembrando de que Evie tem 17 anos e seus pais mal a deixam ir ao Yoga, imagine conhecer um cara mais velho.
    —Um dia quem sabe. – digo apenas isso, querendo ganhar pelo menos essa discussão.
    —Matt ia adorar você. Vocês não muito parecidos.
    —Matt?
    —Meu amigo, ele trabalha para mim no estúdio. Loiro, alto, forte e gay.
    —Eu não o vi no dia em que fui ao estúdio.
    —Ele estava na casa do namorado, quer dizer não e namorado dele, mas ele quer que seja.
    —Eu adoraria conhecer ele.
    —Um dia quem sabe. – ele diz minhas palavras sorrindo de lado.

*

    Conversamos o resto da viagem inteira sobre coisas aleatórias. Quando chegamos à estação de Greys ele me fez ir à bilheteria e simplesmente some, surgindo quase na hora do embarque com uma sacola de salgadinhos e dois cafés expressos.
    —Não tomei café da manhã. – ele diz estendendo um para mim. Faço careta. —Que foi? Alguma coisa desses troços de vegetariano? Você não toma café expresso?
    —Engraçadinho. – digo estreitando os olhos. —Eu só não gosto de café.
    —O que? – ele praticamente grita, arregalando aqueles olhos azuis para mim.
    —O que, o que? – rebato.
    —E possível alguém não gostar de café? – Niall parece genuinamente incrédulo e eu me divirto com isso.
    —Eu aqui, sou a prova vida, de que sim, há quem não goste de café. – aponto para mim mesma.
    —Você e muito estranha. – ele da uma risadinha recolhendo seu braço. —Pelo menos sobra mais café.
     Caminhamos de volta para a fila de embarque, às vezes ele me olhava e mexia a cabeça negativamente tomando um gole de café, o que me fazia rir e ao mesmo tempo querer adivinhar o que ele estava pensando sobre mim.
    —Você realmente me acha estranha? – pergunto quando sentamos nos acentos.
    —Bastante. Quer dizer, quem não gosta de café mais de andar de trem sim? – ele diz erguendo os ombros e as mãos.
    —Eu!
    —Exatamente, apenas você! Quer dizer, o que tem de especial em andar de trem? – ele pergunta olhando ao redor como se procurasse o algo especial.
    —Muitas coisas! – me defendo. —Minha avó paterna morava em St Nicholas, Canvey Island, e todos os finais de semana de cada mês eu ia para lá. Mamãe me botava no trem, quando não ia comigo, e minha avó me esperava na estação. – digo me lembrando dessa época.
    —Eu sempre ficava muito animada para esses finais de semana, e não tinha nada para fazer durante a viagem, mamãe ate colocava em minha mochila livros de desenho, mas com o tempo eu comecei a prestar mais atenção em cada pessoa que ia ao trem em vez do meu livro.
    —O que tinha de interessante? – ele pergunta tomando um longo gole do seu café.
    —Eu ficava sentado no meu bando olhando para as pessoas imaginando como era a vida de cada uma e qual era o motivo para estarem naquele trem. Se a mulher em pé a direita de casaco vermelho. – aponto discretamente para a moça em pé mais adiante de nós. —Está indo encontrar seu marido depois de um dia cheio de trabalho ou se a senhora sentada com a revista esta na verdade divagando tentando lembrar se desligou ou não a chaleira antes de sair de casa. – digo e Niall riu.
    —Para o bem dela espero que sim. – ele diz e eu também dou uma risada. – Você e bastante interessante Kaya.
    Ele me olha com algo diferente em seus olhos e fico fascinada com a capacidade de descobrir algo novo cada vez que olho para eles. Mordo meus lábios quando percebo a nossa aproximação a ponto de poder sentir sua respiração bater contra meus lábios umedecidos.
    Niall ergue a mão livre do copo de café e toca meu cabelo afastando a mecha para trás da minha orelha embrenhando sua mão em minha nuca no meio do caminho. Ele me puxa e eu vou sem protestar, nossos lábios se roçam e ele parece não saber se eu estou disposta a beija-lo.
     Respiro profundamente tomando a coragem que está adormecida dentro de mim e iniciando o beijo. Tocando nossos lábios de uma vez só, sentindo o choque percorrer por minha garganta diretamente para o meu coração fazendo meus batimentos acelerarem inquietos. 
    Sua boca cobre a minha quando ele abre os lábios levemente, imito seus movimentos e sinto o sabor do café, que nunca me pareceu tão gostoso antes. E tudo calmo e ao mesmo tempo sou um turbilhão de sentidos por dentro. Sinto cada pequeno feixe ser aberto, quando sua língua toca a minha meu estomago de contrai em puro êxtase, gelo e fogo ao mesmo tempo. Quando seus dedos pressionam meu pescoço à medida que o beijo ganha intensidade, meus pelos do corpo se eriçam.
    Fico sem fôlego, seus dentes puxam meu lábio inferior e sua língua acaricia chupando. Solto um pequeno gemido e ele se afasta. Tocando nossas testas deixando nossas respirações pesadas se mesclarem.
    Estou de olhos fechados apreciando os últimos momentos de cada novo sentido que ele despertou. De repente Niall ri e eu abro meus olhos para encarar a versão mais limpa das suas íris que já presenciei. Então nós sorrimos junto.
    O resto da viagem por incrível que pareça se desenrolou muito mais dinâmica do que imaginei depois que nós beijamos. Ele me contou um pouco mais sobre seu amigo Matt, que rapidamente me fez ficar interessada de conhecê-lo, ate mesmo me fez provar um salgadinho.
    Quando desembarcamos na estação de volta a Londres eu estava animada, pensei em convida-lo para lanchar algo, já que estava tarde para um almoço e cedo para um jantar. Fiquei parada perto da saída enquanto ele foi ate a lixeira descartar a sacola com suas compras. Vi o momento em que ele pegou o telefone do bolso e atendeu a chamada, disse algo e ergue os olhos para mim, vindo em minha direção em seguida.
    —... Pode ser. – o ouvi dizer quando já estava próximo o suficiente. —Tudo bem, as quatro então.
    Olhei discretamente para o enorme quadro de embarque vendo as horas, eram três e vinte.
    —Ate Eseêne. – ele desligou em seguida, guardo o celular no bolso.
    Ele estava de frente para mim, ficou alguns segundos olhando para o chão, depois me olhou com um sorriso forçado.
   —Então, vamos?
    —Para onde? – perguntei.
    —Para a sua casa? Eu te levo lá, mas depois tenho que sair. – ele diz e então me toco.
    —Há sim. – digo, mordendo os lábios com um pouco de vergonha por ter imaginado de repente que ele me levaria para sei lá onde.
    —Então, vamos? – ele aponta para a saída.
    —Há, er...eu esqueci, tenho um encontro com a minha mãe aqui perto. – digo, rezando para que ele acredite, porque não há encontro nenhum, apenas a magia dos momentos anteriores que se dissiparam.
    —Hã...tudo bem, você me liga depois? Melhor, eu ligo. – Niall pergunta eu balanço a cabeça afirmativamente. — Certo, então ate mais Kaya. – ele vem ate mim e me da um abraço e um beijo na bochecha meio sem jeito sorri e se vai pela porta de saída.

     E eu fico. Parada olhando a silhueta dele se distanciar aos poucos ate desaparecer entre a multidão. E eu me sinto estremecida. Como se meu coração estivesse sendo apertado com toda a força do mundo. O ar me falta e eu mal sei o que esta acontecendo comigo, apenas sei que... Dói. 

Fix Me || Décimo segundo capitulo.

.Niall.
.

.Fuck The Clients..

.Fix Me.



     — Kaya, querida? – ouço alguém gritar, uma mulher.

       Ainda estou tonto pelo beijo, porra, não acredito que fomos interrompidos.

     —Merda! – Kaya se afasta e passa as mãos pelos cabelos.

       Não me mexo, Kaya parece não estar esperando essa pessoa, e esta começando a entrar em desespero.

     —Você! – ela aponta pra mim com determinação, eu engulo seco – Fica aqui, nem pense em sair.

     —Mas...

     —Apenas fica, tudo bem? – seus lábios ainda estão inchados do beijo, ela está sexy como o inferno.

     —Tá, Tá. – digo e levanto as mãos próximas ao peito.

      Ela cerra os olhos pra mim enquanto tenta ajeitar a bagunça de fios em sua cabeça e sai do quarto, eu estou duro, puta que pariu. Saindo do transe que ela me colocou, corro até a porta e grudo minha orelha na mesma.

     —Querida, por que demorou tanto? – dessa vez a voz é masculina. São duas pessoas então.

     —Estava... Entrando no banho. – ela diz gaguejando. Mente muito mal.

     —Você está corada, está com febre? – Ouço passos, provavelmente a mulher está se aproximando para checar a “febre” que causei, mordo o lábio orgulhoso.

     —Mãe! – Kaya repreende a mulher, que agora sei que é sua mãe. – Eu estou bem, ótima na verdade.

     Um sorriso brota em meus lábios, sei que vou acabar indo para o inferno mesmo, então aperto a toalha em meu quadril e saio do quarto, fingindo estar distraído.

     —Kaya, usei o seu xampu, espero que não se importe. – Mexo nos cabelos e olho para cima.

       Todos os olhos estão voltados para mim, os de Kaya estão arregalados e ela parece prestes a ter um aneurisma, por essa ela não esperava. Seu pai, - um homem alto e branco, feito papel com traços firmes. Tenho certeza de que ele é Inglês- parece apenas confuso, já a sua mãe, - tem a cor de pele mais amorenada e olhos como os de Kaya, os detalhes de seu rosto e jeito que se veste deixa claro que não e daqui- tenta segurar um sorrisinho quando me analisa de cima a baixo notando a toalha.

       Agora sei o porquê de Kaya ser tão exótica, há uma mistura muito grande entre seus pais e eu nem conheço o resto de sua família.

        E o Oscar vai para...

     —Olá! – digo amigavelmente. – Estico a mão, primeiro para a mãe, ela retribui meu gesto e eu deposito um leve beijo nas costas de sua mão. – Niall, muito prazer.

     —Er...Kala, encantada. – ela sorri sem graça para mim.

      Estico a mão para o pai e ele faz o mesmo, tudo que consigo identificar em seu semblante e confusão e curiosidade.

     —Carter, prazer. – ele se vira para Kaya, que apenas me encara com raiva transbordando dos olhos. – Querida, não disse que teria companhia.

     —É querida, – digo com ironia – Por que não disse que teria companhia? – seus lábios tremem e eu seguro o riso.

     —Ainda mais uma companhia tão pouco vestida. – Kala também segura o riso. – Agora entendi por que você demorou tanto. – ela pisca para Kaya.

     —Mãe! – suas mãos cobrem seu rosto corado. – Niall, – ela respira fundo tentando controlar seu tom. – Você pode, por favor, me da um minutinho com os meus pais?

Claro, – abro meu melhor sorriso para Kala e Carter. – Com licença, foi um prazer conhecer vocês.

      Virei-me e voltei para o quarto ainda segurando o riso, agora eu fodi com tudo de vez, ela vai me odiar com força. Pensei em colocar minhas roupas, mas talvez a toalha amenizasse sua raiva. Sentei-me em sua cama ainda desarrumada e me encostei-me à cabeceira botando as pernas para cima. Passei as mãos pelo lençol sentindo a maciez e tudo que eu conseguia pensar era no quão longe poderíamos ter chegado caso não tivéssemos sido interrompidos.

     Poderíamos estar nessa cama, meu corpo sobre o dela, nada entre nós, eu iria fazê-la gemer como nunca antes, e calaria os mesmos com beijos como o que demos há pouco tempo atrás. Consigo praticamente vê-la deitada, os lábios entreabertos enquanto ela geme meu nome.
               
       Merda, merda, merda.

       Meu pau pressiona a toalha, não me lembro de desejar tanto uma mulher na minha cama depois de Éseêne, como estou desejando Kaya, ela me intriga, me deixa querendo saber cada vez mais sobre sua história, e nada me deixa mais excitado do que deixar ela com raiva de mim.

      Penso seriamente em voltar para o chuveiro, mas tenho certeza que nem um banho frio resolveria o meu problema, já os lábios rosados de Kaya resolveriam isso em tempo recorde posso apostar. Aperto meus dentes frustrado e jogo a cabeça para trás, batendo na cabeceira.

Merda... – esfrego o local dolorido.

      Kaya abre a porta e entra no quarto sem me dirigir o olhar.

Você ainda não se vestiu? – ela vai para o armário e o abre procurando algo.

Estou com calor... – levanto e caminho em direção a ela, passo uma mão por sua cintura e colo meu corpo nas suas costas. – Podíamos continuar o que começamos.

      Ela se virou rapidamente me empurrando, agi rápido e segurei a toalha caso o contrário estaria nu na sua frente e aposto que ela não ficaria muito feliz devido aos recentes ocorridos.

Não Niall. – Kaya me fitou seriamente e soube que por hoje chega de investidas. – Olha, eu estou de saída. Quando você for embora, fecha a porta tá?

    Seja lá o que ela estava procurando no guarda-roupa ficou esquecido, Kaya se vira pronta para ir embora. Solto a respiração pesada e vou atrás dela.

Hey! – agarrei levemente seu cotovelo – Foi mal, acontece que tudo acaba nos atrapalhando quando estamos começando a nós entender.

       Ela se virou para mim com os olhos cerrados.

Em momento algum tentamos nós entender. – um sorriso malicioso se abre em meus lábios e ela revira os olhos puxando o cotovelo se libertando da minha mão.

Olha, por que a gente não da uma volta? – ela me olha incrédula, como se eu tivesse acabado de criar um rabo. – Vamos conversar um pouco...

Você não tem que trabalhar? – ela sacode a cabeça – Não temos o que conversar.

Claro que temos, eu sei pouquíssimas coisas sobre você. – eu disse levantando as sobrancelhas. – E em relação ao trabalho, posso tirar um dia de folga.

        Eu estava realmente admirado com a minha teimosia, em outros casos com certeza já teria esquecido e pulado pra outra, afinal, mulher é o que não falta, o que eu não entendia era por que eu simplesmente não conseguia deixa-la, minha boca continua articulando e tentando convencê-la a estar comigo, mesmo que isso não faça sentido algum pra mim. Deus, qual foi a ultima vez que tirei um dia de folga? Ainda mais por uma mulher?

Niall, eu tenho que...

Por favor. – fiquei espantado com a sinceridade da minha suplica. – Escute, eu não sou muito bom nisso, mas você pode me dar uma chance? Eu nunca... Vamos apenas sair? Tomar algo, não sei.

    Fico parado por segundos olhando fixamente seu rosto, vendo cada pequeno traço relaxar enquanto ela cedia.

Espero que eu não me arrependa. – ela diz fechando os olhos e eu dou uma risada, me sentindo aliviado. –Aonde você quer ir? – Kaya pergunta.
   Não sei. – dou de ombros – Me leva a um lugar que você goste, que tal?

   Er...- Kaya move a cabeça negativamente e sei que ela está dando para trás. – Não faço ideia de onde podemos ir.

   Um lugar onde possamos conversa e que você goste, sou seu pelo resto do dia. – termino a frase com um leve dar de ombros e Kaya arregala os olhos e engole a seco.

   E-eu...gosto de andar de trem. – Suas bochechas coram como se ela estivesse revelando seu maior segredo.

      Tenho que me conter, pois minhas mãos coçam com a vontade de acariciar seu rosto rosado, balanço-as do lado do corpo e tento entender o que ela quer dizer com gostar de andar de trem.

Como assim? – os cantos da minha boca se curvam ansiando por uma explicação, ansiando para desvendar mais uma camada daquela mulher.

      Ela morde os lábios e sorri. Puta merda.

Posso te mostrar? – ela olha dentro dos meus olhos, parece totalmente travessa nesse momento e já vi que teria que aprender a lidar com suas mudanças, ela estava tímida não faz nem um minuto.

Primeiro as damas... – estico o braço para a porta do quarto.

Você vai de toalha? – suas sobrancelhas se juntam e ela prende os lábios entre os dentes de novo, dessa vez segurando o riso.

        Eu realmente iria seguir ela pra qualquer lugar e demoraria bastante até me ligar que estava apenas de toalha, Kaya faz isso comigo, ela parece me enfeitiçar com aqueles olhos, pelo o que eu vi de seus pais o que não falta na família dela é variedade, talvez ela seja descendentes de ciganas ou algo do tipo, aquilo não era normal.

Algum problema? – coço a cabeça – Aposto que faria o maior sucesso... – Dobro os braços e forço o abdome, Kaya cora e sacode a cabeça.

Apenas coloque sua roupa. – ela sai do quarto apressada.

           Visto minhas roupas e a sigo para a fora do quarto, Kaya arruma algumas coisas em sua bolsa e a cruza por seus ombros.

Melhor? – abro os braços para mostrar que estou devidamente vestido.

Ér... – ela hesita – Claro!

     Um sorriso convencido brota em meu rosto, sou incapaz de me segurar, pego o meu celular que por algum milagre ainda tem 15% de bateria, procuro pelo número de Greta, ela atende no terceiro toque.

Greta? – Kaya caminha em direção a porta e eu a sigo.

Niall, onde você tá? – sua voz é estridente e eu afasto o celular do ouvido. – Você tem um cliente em uma hora!

Desmarca.

O que? Você ta rico agora por acaso? – Já saímos, e estamos na rua caminhando em direção a estação.

Desmarca a agenda do dia todo.

Niall, mais que merda! – ela reclama e eu estou quase gritando com ela e mandando ela procurar outro chefe pra encher a porra do saco.

Só faz o que eu to mandando, Greta.

Eu preciso dar alguma justificativa para os clientes. – Kaya está brincando com um fio solto de sua blusa e quando percebe que eu estou encarando ela sorri pra mim.

       Fodam-se os clientes.

       E fácil assim, um movimento de lábios, alguns dentes e olhos hipnotizantes para me fazer perder todo o meu profissionalismo.


Diz para eles que eu fui dar uma volta de trem.