Fix Me || Décimo Terceiro

15:04 Unknown 0 Comments

.Kaya.
.Train Ride.

"Beije-me como se quisesse ser amado
Estou me apaixonando pelos seus olhos, mas eles ainda não me conhecem
Então eu te abraço apertado para te ajudar a se entregar
Beije-me como se quisesse ser amado"
                         (Ed Sheeran - kiss me)



    “Diz para eles que eu fui dar uma volta de trem.”
    A frase ficou em minha cabeça ecoando, algo no modo como ele disse e me olhou me fez sentir tão bem.
    Eu estava parada na frente de uma banca, fingindo ler o jornal, mas na verdade estava prestando atenção em como o Niall ficava de costas. Ele estava na fila para comprar os tickets de trem. Parecia tão charmoso e descontraído, com as mãos dentro dos bolsos da calça, movendo a cabeça de um lado para o outro.
    Mal podia controlar o sorriso bobo, e novamente não sabia explicar porque eu estava assim ou porque eu cedia tão fácil quando se tratava dele, só sabia que estávamos na estação de trem indo sem rumo para algum lugar e por hora isso mais que servia.
     ***
    —Duas passagens de Trem para Grays. – Niall estava com os tickets entre os dedos e sorria divertido para mim. —Você tem cento e dois minutos ao meu lado para me falar sobre a sua vida inteira.
    —Minha vida e bem monótona. – digo dando de ombros.
    —Que bom porque eu adoro falar.
    Fiquei olhando para ele sem saber o que dizer quando a saída do nosso trem foi avisada pelos altos falantes.
    Andamos um do lado do outro em completo silencio ate o trem, demos os tickets à moça do embarque e entramos no vagão.
     —Papel e tesoura para quem fica com a janela. – Niall fecha a mão em punho e balança. Começo a rir.
    —Você pagou as passagens, eu fico com o lado do corredor.
    —Justo. – Niall se senta e eu vou para o lado dele. —Ainda temos cinco minutos antes de o trem embarcar.
    —Então temos cento e sete minutos. – ele ri.
    —Bem observado. – de repente encaro seus olhos e não consigo desfazer o contato.
    —O que foi? – Niall pergunta parando de rir aos poucos.
    —Nada. – digo desviando os olhos me sentindo envergonhada por ter sido pega no flagra.
    —Acho que a gente deveria ter passado na loja e ter comprado algo, a viagem vai ser longa.
    —Odeio salgadinhos, fazem tão mal a saúda.
    —Você não sabe o que e bom. – Niall diz balançando a cabeça. —Eu não consigo acreditar que você nunca tenha comido carne.
     —Eu não consigo acreditar que você estraga seu corpo comendo carne e, além disso, mata os animais. – rebato.
    —Eu nunca matei animal nenhum, vou direto à seção de congelados. – ele da de ombros e ri, eu tento me segurar, mas acabo falhando miseravelmente.
    —Então você de fato e uma britânica que nunca comeu Fish ‘n’ Chips?
    —Eu comi apenas os Chips, serve? – perguntei fingindo uma cara de culpada.
    —Não conta. Que bela nacionalista eu tenho do meu lado.
    —Você nem e britânico! – cutuco o braço dele.
    —Eu sou um  Británico-Irlandés. – ele argumenta
    —Pensei que irlandeses não gostassem desses termos.
    —Não tente desbancar meus argumentos.
    —Não tenho culpa se seus argumentos são fracos, senhor nacionalista.
    —Olha só o Trem começou a andar faz alguns minutos.
    Olho para a janela ao seu lado e vejo a paisagem passando em boros. Engatamos uma brincadeira tão descontraída que mal prestei atenção ao barulho do trem.
    —Então e melhor eu correr com minha historia de vida, nossos minutos estão passando.
    Niall abre aquele sorriso sem intenções, meu preferido, e por uma leve fração de segundos me pego jurando faze-lo sorrir assim mais vezes.

***
     —Então quando eu fiz 19 participei de uma viagem a Liverpool.
     —Eu amo Liverpool. – Niall diz.
    —Eu já tinha ido lá antes, com meus pais, para visitar museus. – solto uma risadinha. —Mas essa foi minha primeira viagem sozinha.
    —Eu fui a Liverpool pela primeira vez com Eseêne. – pisco atônita quando me lembro de Eseêne.
    —Você devem ser bem amigos. – comento relembrando dos dois na festa da noite passada.
    —De infância. – sua voz e nostálgica e há outro tom que não consigo decifrar. Percebo que esse assunto e delicado.
    —Vocês brigaram? – pergunto curiosa.
    —Talvez. - Niall solta uma risada anasalada sem graça seguida de um enorme suspiro. —E complicado.
    Ele da de ombros como se quisesse trocar de assunto. Fico curiosa para fazer mais perguntas, Eseêne me pareceu ser bem intima dele, e possível que tenham brigado depois que fui embora da festa? Imediatamente lembro a conversa que tive com Harry, noivo dela, e como ele pareceu chateado. Quero perguntar, mas me controlo para ficar calada, esperando o desconforto de dissipar.
    —A gente se conheceu quando me mudei para a casa ao lado da casa dos avós dela. – ele conta e fico surpresa por ele estar falando, permaneço calada. —Fomos a mesma escola, fizemos praticamente tudo juntos.
    Ouvi-lo dizer isso confirma meu pensamento sobre eles serem bastante amigos, mas então me passa pela cabeça que talvez eles sejam mais do que isso.
    —Ela e minha melhor amiga. – Niall confirma com a cabeça olhando para o nada, e eu não tenho coragem de questioná-lo sobre o grau de amizade deles.
    —Minha melhor amiga e minha mãe. – digo meio que tentando quebrar o gelo. Ele ri de mim. —O que foi?
    —Sua mãe não pode ser sua melhor amiga. – ele diz.
    —Como? Por quê?
    —Você não diz tudo para a sua mãe.
    —Digo sim.
    —Você não falou para ela sobre mim. – Niall diz com um sorrisinho presunçoso nos lábios, como se tivesse me pego com seus argumentos.
    —E porque eu falaria sobre você? – pergunto sustentando seu olhar, ele para e não diz nada fica apenas me olhando como se procurasse algo para falar.
    Nesse momento percebo que ele está tão perdido quanto eu em relação a nós dois. E se realmente existira um nós dois.
    Pisco e desvio o olhar, me perguntando como conseguimos entrar em assuntos tão extremos em questão de segundos.
    —Como está a tatuagem? – Niall pergunta com a voz saindo um pouco diferente. Hesitante talvez.
    —Está ótima, passo apenas a pomada. – comento tocando sobre a blusa de malha fina o local onde fica minha tatuagem.
    —O que seus pais acharam?
    —Então... - digo mordendo os lábios e ele me encara apreensivo, esperando que eu diga que talvez, eles não gostaram. —Eles ainda não sabem.
    Imediatamente ele explode em uma risada e eu vou junto.
    —Meu Deus, esta vendo? Eu estava certo! – ele consegue dizer entre os risos, e eu bato em seu braço olhando ao redor as pessoas encararem a gente com caras tortas.
    —Cala a boca!
    —Cala você Kaya sem amigos.
    —Qual e o seu problema? – pergunto tentando tapar sua boca que ria escandalosamente.
    —O meu? Nenhum você e que não tem amigos.
    —Eu tenho amigos, tá? – me defendo.
    —Então me cite um.
    Engulo a seco, procurando em minha memória alguma pessoa que possa chamar de amigo.
    —Evie!
    —Quem é?
    —Uma parceira de Yoga. Inclusive ela deve estar sozinha hoje no treino, já que estou aqui com você.
     —Me apresenta a ela que eu peço desculpas. – pisco algumas vezes me lembrando de que Evie tem 17 anos e seus pais mal a deixam ir ao Yoga, imagine conhecer um cara mais velho.
    —Um dia quem sabe. – digo apenas isso, querendo ganhar pelo menos essa discussão.
    —Matt ia adorar você. Vocês não muito parecidos.
    —Matt?
    —Meu amigo, ele trabalha para mim no estúdio. Loiro, alto, forte e gay.
    —Eu não o vi no dia em que fui ao estúdio.
    —Ele estava na casa do namorado, quer dizer não e namorado dele, mas ele quer que seja.
    —Eu adoraria conhecer ele.
    —Um dia quem sabe. – ele diz minhas palavras sorrindo de lado.

*

    Conversamos o resto da viagem inteira sobre coisas aleatórias. Quando chegamos à estação de Greys ele me fez ir à bilheteria e simplesmente some, surgindo quase na hora do embarque com uma sacola de salgadinhos e dois cafés expressos.
    —Não tomei café da manhã. – ele diz estendendo um para mim. Faço careta. —Que foi? Alguma coisa desses troços de vegetariano? Você não toma café expresso?
    —Engraçadinho. – digo estreitando os olhos. —Eu só não gosto de café.
    —O que? – ele praticamente grita, arregalando aqueles olhos azuis para mim.
    —O que, o que? – rebato.
    —E possível alguém não gostar de café? – Niall parece genuinamente incrédulo e eu me divirto com isso.
    —Eu aqui, sou a prova vida, de que sim, há quem não goste de café. – aponto para mim mesma.
    —Você e muito estranha. – ele da uma risadinha recolhendo seu braço. —Pelo menos sobra mais café.
     Caminhamos de volta para a fila de embarque, às vezes ele me olhava e mexia a cabeça negativamente tomando um gole de café, o que me fazia rir e ao mesmo tempo querer adivinhar o que ele estava pensando sobre mim.
    —Você realmente me acha estranha? – pergunto quando sentamos nos acentos.
    —Bastante. Quer dizer, quem não gosta de café mais de andar de trem sim? – ele diz erguendo os ombros e as mãos.
    —Eu!
    —Exatamente, apenas você! Quer dizer, o que tem de especial em andar de trem? – ele pergunta olhando ao redor como se procurasse o algo especial.
    —Muitas coisas! – me defendo. —Minha avó paterna morava em St Nicholas, Canvey Island, e todos os finais de semana de cada mês eu ia para lá. Mamãe me botava no trem, quando não ia comigo, e minha avó me esperava na estação. – digo me lembrando dessa época.
    —Eu sempre ficava muito animada para esses finais de semana, e não tinha nada para fazer durante a viagem, mamãe ate colocava em minha mochila livros de desenho, mas com o tempo eu comecei a prestar mais atenção em cada pessoa que ia ao trem em vez do meu livro.
    —O que tinha de interessante? – ele pergunta tomando um longo gole do seu café.
    —Eu ficava sentado no meu bando olhando para as pessoas imaginando como era a vida de cada uma e qual era o motivo para estarem naquele trem. Se a mulher em pé a direita de casaco vermelho. – aponto discretamente para a moça em pé mais adiante de nós. —Está indo encontrar seu marido depois de um dia cheio de trabalho ou se a senhora sentada com a revista esta na verdade divagando tentando lembrar se desligou ou não a chaleira antes de sair de casa. – digo e Niall riu.
    —Para o bem dela espero que sim. – ele diz e eu também dou uma risada. – Você e bastante interessante Kaya.
    Ele me olha com algo diferente em seus olhos e fico fascinada com a capacidade de descobrir algo novo cada vez que olho para eles. Mordo meus lábios quando percebo a nossa aproximação a ponto de poder sentir sua respiração bater contra meus lábios umedecidos.
    Niall ergue a mão livre do copo de café e toca meu cabelo afastando a mecha para trás da minha orelha embrenhando sua mão em minha nuca no meio do caminho. Ele me puxa e eu vou sem protestar, nossos lábios se roçam e ele parece não saber se eu estou disposta a beija-lo.
     Respiro profundamente tomando a coragem que está adormecida dentro de mim e iniciando o beijo. Tocando nossos lábios de uma vez só, sentindo o choque percorrer por minha garganta diretamente para o meu coração fazendo meus batimentos acelerarem inquietos. 
    Sua boca cobre a minha quando ele abre os lábios levemente, imito seus movimentos e sinto o sabor do café, que nunca me pareceu tão gostoso antes. E tudo calmo e ao mesmo tempo sou um turbilhão de sentidos por dentro. Sinto cada pequeno feixe ser aberto, quando sua língua toca a minha meu estomago de contrai em puro êxtase, gelo e fogo ao mesmo tempo. Quando seus dedos pressionam meu pescoço à medida que o beijo ganha intensidade, meus pelos do corpo se eriçam.
    Fico sem fôlego, seus dentes puxam meu lábio inferior e sua língua acaricia chupando. Solto um pequeno gemido e ele se afasta. Tocando nossas testas deixando nossas respirações pesadas se mesclarem.
    Estou de olhos fechados apreciando os últimos momentos de cada novo sentido que ele despertou. De repente Niall ri e eu abro meus olhos para encarar a versão mais limpa das suas íris que já presenciei. Então nós sorrimos junto.
    O resto da viagem por incrível que pareça se desenrolou muito mais dinâmica do que imaginei depois que nós beijamos. Ele me contou um pouco mais sobre seu amigo Matt, que rapidamente me fez ficar interessada de conhecê-lo, ate mesmo me fez provar um salgadinho.
    Quando desembarcamos na estação de volta a Londres eu estava animada, pensei em convida-lo para lanchar algo, já que estava tarde para um almoço e cedo para um jantar. Fiquei parada perto da saída enquanto ele foi ate a lixeira descartar a sacola com suas compras. Vi o momento em que ele pegou o telefone do bolso e atendeu a chamada, disse algo e ergue os olhos para mim, vindo em minha direção em seguida.
    —... Pode ser. – o ouvi dizer quando já estava próximo o suficiente. —Tudo bem, as quatro então.
    Olhei discretamente para o enorme quadro de embarque vendo as horas, eram três e vinte.
    —Ate Eseêne. – ele desligou em seguida, guardo o celular no bolso.
    Ele estava de frente para mim, ficou alguns segundos olhando para o chão, depois me olhou com um sorriso forçado.
   —Então, vamos?
    —Para onde? – perguntei.
    —Para a sua casa? Eu te levo lá, mas depois tenho que sair. – ele diz e então me toco.
    —Há sim. – digo, mordendo os lábios com um pouco de vergonha por ter imaginado de repente que ele me levaria para sei lá onde.
    —Então, vamos? – ele aponta para a saída.
    —Há, er...eu esqueci, tenho um encontro com a minha mãe aqui perto. – digo, rezando para que ele acredite, porque não há encontro nenhum, apenas a magia dos momentos anteriores que se dissiparam.
    —Hã...tudo bem, você me liga depois? Melhor, eu ligo. – Niall pergunta eu balanço a cabeça afirmativamente. — Certo, então ate mais Kaya. – ele vem ate mim e me da um abraço e um beijo na bochecha meio sem jeito sorri e se vai pela porta de saída.

     E eu fico. Parada olhando a silhueta dele se distanciar aos poucos ate desaparecer entre a multidão. E eu me sinto estremecida. Como se meu coração estivesse sendo apertado com toda a força do mundo. O ar me falta e eu mal sei o que esta acontecendo comigo, apenas sei que... Dói. 

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