FIX ME || Primeiro Capitulo.

13:33 Unknown 12 Comments


.Blue Chaos.
.Kaya Narrando em Primeira Pessoa. 
.Playlist do capitulo:
Coldplay - Fix You.


"Luzes te guiarão até em casa
E aquecerão teus ossos
E eu tentarei, consertar você"

   "Puta merda."
   
   Esse é meu primeiro pensamento quando acordo na manhã de segunda-feira . Estou morrendo de sono, uma força sobre humana me faz querer permanecer na minha cama e quando me viro para sucumbir a essa vontade ouço a voz de minha mãe gritar no andar de baixo.
   
   "Puta merda."
   
   Eu amo meus pais, mas definitivamente esse foi um dos motivos que me fez querer sair  de vez de casa, aos 19 anos. Já perdi as contas de quantas vezes os vizinhos chamaram os bombeiros por acharem que a fumaça dos incensos que papai acendia fosse na verdade fogo. Além disso, eles tinham a péssima mania de cantar em horários inoportunos. Como agora.
   
  Me levanto da cama quando, além dos gritos da minha mãe, o barulho do tambor do meu pai se faz presente. O único jeito de me acordar de vez é tomar um banho bem gelado. Correr o risco de morrer congelada nesse inverno de janeiro em Londres nem é em si o mal, o real problema é que meu chuveiro foi projetado para quando eu tinha 10 anos e mede metade da minha altura atual.
  
    De fato, se minha professora de Yoga visse minha posição para caber ali e conseguir molhar meu corpo por inteiro, facilmente eu tomaria seu lugar como tutora.
   
   Sou obrigada a usar as mesmas peças de roupa que estava usando ontem, uma calça preta simples e uma blusa de manga comprida verde. Eu não pretendia passar a noite na casa dos meus pais, mas os dois podem ter um poder de persuasão incrível quando querem, atacaram logo para o meu lado emocional e foi assim que terminei a noite no meu quarto de infância. 
  
  Me lembro de quando pintei as paredes do quarto pela primeira vez, foi logo depois da minha viajem a Liverpool,  tingi as paredes amarelas com azul chumbo. Tive que tirar todos meus trabalhos do jardim de infância até mesmo os pôsteres de bandas que eu tanto 
amava colecionar quando tinha 15 anos. Eu amava a casa dos meus pais ,- em principal  o meu quarto- era como um diário sobre minha vida inteira aberto nas paredes. Os origamis, com papéis amarelados pelo tempo, ainda estavam pendurados no teto, assim como meu primeiro apanhador dos sonhos feito com a ajuda da minha mãe.
   
   — Café na mesa! Cadê a Kaya? - A voz do meu pai ecoa do andar de baixo. Me despeço do meu quarto com um olhar nostálgico e sigo andando pelo corredor até escadas.
   
   — Bom dia, família - digo assim que piso na sala, minha mãe grita da cozinha e vou em direção ao corredor.
   
   — Bom dia, raio de Sol - papai me surpreende quando aparece atrás de mim, ainda no pequeno corredor, deve ter saído do banheiro. — Sua mãe está especialmente alegre hoje, a pimenteira deu sua primeira pimenta!
   
   —  Vamos ter molho de pimenta logo no café? - Pergunto receosa.
   
   — Consegui convencê-la a esperar a terceira pimenta brotar - solto a respiração pesada e caminho o resto do trajeto abraçada a meu pai. Eu amo tudo que vem da terra, mas definitivamente pimenta é uma exceção.
   
   — Pensei que tivesse ensinado você a acordar com o Sol, flor. - Mamãe sorri quando entramos na cozinha. A mesa está repleta de frutas, café, suco... um verdadeiro banquete que abre meu apetite imediatamente.
  
    — Ensinamos muitas coisas a ela querida, no entanto, nossa Kaya tem personalidade própria. - Papai lança uma piscadela para mamãe e rouba uma uva da vasilha que ela segura.
   
   — Sorte a nossa de ter essa menina maravilhosa! - de onde estou vejo os olhos de mamãe brilharem e já sei o que vem a seguir. Meu pai  a abraça com força e sussurra algo que não consegui ouvir, mas pelo seu sorriso fico aliviada. Por hoje, não teremos lágrimas.
   
   — Nossa filha é tudo o que temos, querida. Nossa brilhante Kaya! - dou um enorme sorriso. Amo o orgulho que eles sentem de mim, significa que algo nessa vida estou fazendo certo, retribuindo o orgulho que eles me dão.
  
   — Amo muito vocês! - Corro o pequeno espaço que nós separa e me junto a um abraço triplo e emocional.

***
   
   — Vou direto para a loja, pai. - digo quando recebo o beijo na testa da minha mãe.
   
   — Tudo bem, filha. Encontro você lá depois do meio dia e levo o seu almoço. - Balanço a cabeça afirmativamente e mando um beijo no ar enquanto começo meu percurso pelas ruas frias de Londres.
   
   Nossa loja familiar fica a algumas quadras do Rio Tâmisa. Vendemos produtos naturais que meu pai cultiva no quintal de casa. Tudo começou bem antes do meu nascimento, e apesar de não ser algo grande, sempre deu certo. Meu pai é um químico orgânico brilhante, ele sempre esperou que eu seguisse seu caminho, porém optei por administração e hoje cuido das finanças da loja junto com a ajuda da minha mãe.
   
   O barulho de Londres é a única coisa que sempre me incomodou. Amo o silêncio, acredito que penso melhor no silêncio, porém sou uma grande amante da música. De toda a tecnologia que a inteligência humana já criou a única com a qual me simpatizei e me rendi completamente foi o mp3. Sei que hoje em dia existem outros aparelhos que reproduzem músicas de forma mais avançada, mas enquanto meu mp3 estiver vivo o usarei com orgulho.
  
   Ponho meus fones e aperto o play. Ocasionalmente o som que faz me companhia é de uma das bandas que mais gosto, Coldplay, eles são brilhantes e talentosos de uma  forma única. Fix You toca sua melodia lentamente, ouço a letra com atenção, sentindo tudo o que ela quer passar. Meu coração bate acelerado, começo a cantar as frases sentimentais e melancólicas, até me arrepio. Olho adiante quando avisto no outro lado da rua um letreiro piscando em luzes vermelhas "InkZone". É um estúdio de tatuagem.
   
   Sou tomada por algo maior que eu, e quando dou por mim, já atravessei a rua e estou dentro do estúdio. Na recepção  uma loira com tatuagens aparentes na gola da camisa me desfere um olhar de poucos amigos.
   
   — O que você quer? - Ela pergunta erguendo uma sobrancelha bem pintada. Dou um sorriso para sua falta de educação, acredito que esse é o melhor remédio para quem quer ser desprezível de graça.
    
   — Gostaria de fazer uma tatuagem. - digo e ela ri de mim.
   
   — E o que vai ser, hippie? -  pergunta claramente debochada.
   
   — Você por acaso é a tatuadora daqui? - ela abre a boca para dizer algo, mas fecha de novo quando outra voz surge atrás de mim.
   
   — Não. Eu sou o tatuador aqui. - o rosto da loira se contorce em um sorriso de canto malicioso, e de repente, meu ato de entrar naquele estúdio se torna um tremendo erro. Me viro para o dono da voz esperando o pior e o que encontro não é nada do que meu pré conceito esperava.
  
   Poucas coisas tinham a capacidade de me surpreender nessa vida, mas certamente o dono daquela voz era uma bela surpresa. Além do som bonito, os cabelos loiros quase brancos despenteados de forma trabalhada, o contorno dos lábios vermelhos e até mesmo seu nariz em conjunto eram incrivelmente agradáveis de um forma quase igual. E seus olhos...havia algo neles, a parte da íris azul gelada, algo que guardava desordem. Como em um perfeito caos regido por tristeza.
   
   Me senti uma invasora olhando fixo para seus olhos, como se eu pudesse descobrir alguma coisa que ele não quisesse mostrar. Algo dentro de mim pareceu duplicar e um estranho frio tomou conta do meu tronco inteiro com mais intensidade em meu estômago. Tentei desviar meus olhos dos dele, mas era mais forte do que eu, simplesmente não conseguia. Por mais que a gravidade da energia fosse diferente, ele também sentia algo próximo do que eu sentia.
Seus lábios estavam em uma linha reta, seu cenho estava franzido e pude ver claramente o momento em que seu pomo de Adão se moveu, como se uma lupa estivesse na frente dos meus olhos. Ele estava intimidado e eu não podia estar mais fascinada. De repente me ocorreu... aquelas íris não me eram tão estranhas.
   
   — Eu já vi você em... algum lugar? - ele foi o primeiro a quebrar o silêncio. E nem fiquei surpresa com a pergunta.
   
   — Estava prestes a perguntar o mesmo.
   
   — Qual é seu nome? Talvez, eu reconheça... -  dou um sorriso, eu odeio o fato de sentir minha pele do rosto pinicar, tenho quase certeza de que estou ficando vermelha.
  
   — Sou Kaya, prazer em... conhecer você. - dou os últimos passos que nós separam e ergo a mão para ele. Seu aperto vem confiante, sem hesitação, firme e forte.
   
   — Sou Niall. O prazer é meu, Kaya - tentei falhamente retribuir o aperto, e nem percebi  que já estava encarando seus olhos de novo, até a recepcionista falar novamente.
   
   — Só temos horários para quarta. - me afastei piscando algumas vezes tentando situar aquele frio na barriga. Não imaginei que faria isso, mas agradeci mentalmente a loira mal educada por me fazer sair daquele momento de transe.
   
   — Sim Greta, mas só terei clientes depois das onze. Posso atender você Kaya e dependendo do que quer faço sua tattoo hoje mesmo. - uma parte de mim queria muito ver a cara da tal Greta, mas outra simplesmente pareceu se esquecer da pequena briga estabelecida friamente entre nós quando ouviu meu nome ser pronunciado por ele.
   
   Definitivamente meu nome tornou-se, depois de hoje, minha palavra preferida no mundo.
   
   — O que você acha? - balancei a cabeça afirmativamente. Niall sorriu para mim entrando pelo corredor e eu apenas o segui.
   
   Haviam três portas, uma de cada lado e outra bem no meio com uma placa prata cravada com o nome dele. De costas eu podia apreciar uma vista diferente, sua nuca branca e livre de tatuagens, então me ocorreu que não havia nenhum rabisco por seus braços, a não ser que por dentro na camisa opaca preta houvesse desenhos.
   
   — Você não tem tatuagens? - Perguntei enquanto ele abria a porta da sua sala.
   
   — Nenhuma. - respondeu simplesmente, me deixando com inúmeras perguntas.

   Entrei na sala ampla examinado qualquer ponto que não fosse Niall. Queria muito perguntar porque um tatuador não tinha tatuagens, mas me ocorreu que ele era apenas diferente. Todas as paredes da sala eram desenhadas, algumas frases, flores, personagens icônicos.... meus olhos pararam em um enorme quadro onde haviam outros desenhos em folhas de papel, um em questão me chamou atenção. Era uma pena grande e totalmente colorida, extremamente linda e única, ficava situado bem no meio do quadro como se fosse o mais importante dali, e realmente, era o mais chamativo e diferente.
   
   — Você já tatuou esse em alguém? - perguntei curiosa, eu já havia atravessado o espaço para ficar de frente para aquele desenho, passei meus dedos pelos traços firmes, o tom de azul se parecia tanto com a cor dos olhos dele.
   
   — Sim... - havia algo de diferente em como sua voz soou, era triste e quase doloroso.
   
   — Ele é muito bonito,  Niall. Tenho certeza que significa muito. - murmurei. Niall sorriu de canto para mim e desviou os olhos do desenho, fiz o mesmo, pois me senti novamente como uma invasora.
   
   — Então, você sabe o que quer fazer? - ele perguntou se sentando na cadeira de couro  e me observando enquanto eu permanecia de pé.
   
   — Sim, você já ouviu a música Fix You ?
   
   — Não. - ele balançou a cabeça levemente apoiando o queixo na mão.
   
   — Do Coldplay... - Tento refrescar sua memória, mas ele apenas balança a cabeça novamente. Mordo meus lábios quando decido cantar. — Lights will guide you home... - respiro fundo porque de repente o ar parece ter ficado mais pesado. — And ignite your bones...And I will try, to fix you.
   
   Começo a ficar nervosa, sua expressão está seria e me sinto uma tonta por ter cantando na frente dele.
   
   — Me desculpa, eu... - começo, mas Niall faz um aceno com a cabeça.
   
   — Tudo bem, conheço a música. - Ele se levanta da cadeira e pega um bloco com papel em cima da mesa, abre as gavetas, puxa uma caneta preta, volta para a cadeira e se senta com o bloco sobre as pernas juntas. — Eu só queria te ouvir cantar. - Ele solta uma risada anasalada e não diz mais nada enquanto abre a tampa da caneta e começa a desenhar letras cursivas no papel.
   
  Passaram-se minutos em que minha voz permanecia presa no fundo da garganta. Eu me sentia estranha, queria sair dali e apenas seguir para onde eu deveria ter ido a princípio.
  
    — O que você acha? - Niall ergueu o papel para mim. As letras da música estavam bem desenhadas, curvadas, alongadas, e ao menos tempo, simples, pequenas e delicadas. Eu amei.
   
   — Está... perfeito.
   
   — Que bom que você gostou. - ele abriu um sorriso que até então não havia visto e o gelo dos seus olhos pareceu sumir momentaneamente enquanto olhava para o papel orgulhoso do próprio trabalho. — Você sabe onde quer fazer?
   
   Confirmei com a cabeça e ele me pediu para mostrar. Levantei minha camisa ate o sutiã sem mostrar nada e apontei para a lateral do meu corpo bem na área da costela.
   
    — Aqui. - respondi confiante. Analisei o local e só então me dei conta que iria doer muito, mas valia o sacrifício. Ergui meus olhos para ele que encarava aquela parte do meu corpo fixamente.
   
   — Hum... ok. Você realmente quer isso? - dei um leve sorriso e abaixei minha blusa.
   
   — Rara foram as vezes em que eu não tive certeza de algo e essa não é uma delas.
   
   — Então, tira a blusa e deita na maca.
   
   Puxei a barra da camisa ficando apenas de sutiã. Niall estava analisando o desenho quando perguntei como deveria deitar.
   
   — De... lado.
   
   Pus minha bolsa e a blusa em cima da mesa dele. Fui até a maca e subi, me deitando de lado como ele disse.
   
   Niall pôs a cadeira de couro ao lado da maca e me pediu para erguer o braço. Sua mão estava coberta por uma luva, mas isso não impediu que eu me arrepiasse quando seus dedos tocaram minha pele.
   
   — Aqui? - perguntou e eu confirmei. O desenho que ele havia feito no papel agora estava sobre minha pele, depois de ter pressionado por alguns instantes a tinta transferiu para o meu corpo. — Você quer preto? - perguntou me olhando. Balancei negativamente.
   
   — Estava pensando em algo azul. - Niall deu um pequeno sorriso para mim, se levantou da cadeira e foi buscar algo, quando voltou o barulho característico da maquina de tatuar começou.
   
   — Isso pode doer um pouco.
   
   — Vai valer a pena.
 ***
   
   — Uau. - murmurei quando vi a tatuagem pronta, demorou cerca de quarenta minutos e lá estava ela. Minha primeira tatuagem.
   
   Doeu pra caramba. Cada vez que a agulha entrava em minha pele parecia que ia além e encostava em meus ossos. Fora isso, cada segundo valeu a pena.
   

   — Gostou? - Perguntou pondo a máquina em um suporte ao lado da maca.

   — Claro! Melhor loucura que já cometi. - Niall riu e se levantou.

   — Vou fazer o curativo e você vai estar liberada.

   — Posso me levantar? - já estava ali a bastante tempo e começava a sentir a lateral do meu corpo dormente.

   — Sim.

   Quando me sentei na maca parei para analisar os traços, era uma bela tatuagem, com uma frase linda. Niall voltou para o meu lado.

   — Essa pomada é para cicatrização. - explicou enquanto deslizava o dedo melecado de pomada por minha tatuagem, ardeu um pouco, mas logo passou. Ele se afastou de novo, dessa vez para pegar papel filme e pedaços de esparadrapo. — Só tire esse curativo quando for tomar banho. Limpe, depois passe de novo a pomada e faça o curativo. Não tem erro.

   Fiquei fascinada pelo modo gentil que tratava minha pele. Ele pôs o papel filme por cima do desenho e depois o esparadrapo ao redor para manter-se no lugar. Certificou-se de que estava tudo certo e tirou as luvas, descartando-as em uma lixeira no canto.

   — Está tudo certo agora. - disse indo se sentar em sua cadeira, sem me olhar.

   Desci da maca e pela primeira vez desde que tirei minha blusa me senti nua ali. O ar se tornou pesado novamente e sem nenhum motivo que eu soubesse explicar meu coração começou a bater em disparadas batidas.

   — Er... quanto custa? - pergunto enquanto visto rapidamente a blusa de mangas compridas para me proteger do frio.

   — Hã... deixa pra lá. - Niall murmurou ficando sem graça.

   — Não, eu ocupei o seu tempo livre. - peguei minha bolsa e comecei a procurar minha carteira.

   — Para com isso, Kaya. Considere um presente. - parei de procurar minha carteira assim que ouvi meu nome, merda... isso era golpe baixo. Sua voz era tão linda. Meu nome ficava lindo naquele tom. Ele tinha um sotaque, eu conhecia esse sotaque era igual o da minha tia avó Tessie.

   — Você é irlandês? - ele abriu um sorriso enorme e balançou a cabeça afirmativamente.

  — Meu pai é irlandês,  minha mãe é britânica, nasci em Dublin e vim para cá aos cinco anos. E você, Kaya? - mordi meus lábios para conter o meu sorriso bobo.

   — De onde você acha que eu sou, Niall?

   — Eu não faço ideia, você é bem diferente. - respondeu — Seu nome...

   — Meu pai é um grande amante da botânica. Kaya é uma árvore conífera, cresce lentamente e é típica do Japão. Na religião budista significa o corpo em manifestação.

   — Você tem descendência japonesa? - perguntou arregalando levemente os olhos.

  — Não... Meu pai também gosta muito de geografia. Na verdade, meu nome têm muitos significados, mas o da planta é o meu preferido, então... - Niall solta uma risada, com direito a som, e me pego rindo também. É tão contagiante que se torna impossível não rir junto. —Meus avós por parte de mãe são indianos, mas ela nasceu aqui e meu pai também.

   — Muito legal! - exclamou ainda rindo.

   Mordi meus lábios e recuperei o fôlego.

   — Se você não vai me deixar pagar a tatuagem pelo menos me deixe retribuir de alguma forma. - digo e tenho sua atenção.

   — O que você sugere? - mordo meus lábios pensando no que tenho a oferecer para ele.

   — 10% de desconto em toda minha loja! - Niall ri de novo.

   — Você têm uma loja?

   — Sim!

   — De que? - pergunta curioso. Curioso o suficiente para abandonar sua cadeira e se unir a mim em pé.

   — De produtos naturais. - Respondo recuando uns passos para trás, porque assim tão próxima eu posso sentir seu cheiro e ver todos os pontos acinzentados no azul dos seus olhos e isso se tornou extremamente perigoso para minha sanidade mesmo em tão pouco tempo. 

   — Que tipo de produtos naturais, Kaya? - pareceu que ele fez de propósito. Dando os passos que eu recuei, sussurrando meu nome lento e baixo.

   — Minha mãe faz temperos típicos da Índia... - murmuro engolindo seco. De repente, a sala de tornou pequena, nem mesmo enquanto ele desenhava a minha pele pareceu tão apertada, talvez eu estivesse preocupada demais em não sentir dor, nem mesmo seu cheiro pareceu tão forte. Cravo e canela, uma combinação tão única... como ele. 

   — O que mais?

   — Temos sementes... frutas secas... Ér... sabonete artesanal... - fechei meus olhos tentando me concentrar em algo que não fosse sua aproximação. — Chás... pães integrais... vitaminas... e um monte de outras coisas. Você pode conferir se for lá.

   — Onde fica, Kaya? - perguntou.

   — Perto do Rio Tâmisa.

   — 10% me parece um ótimo desconto. - Balancei a cabeça afirmativamente e ele sorriu de lado. Droga, essa versão do seu sorriso era sexy pra cacete. — Vamos fazer assim, você me dá seu número e eu aviso quando for aparecer por lá para ter certeza que quem vai me atender é você.

   — Somos uma loja familiar. Ninguém além da minha mãe, meu pai e eu.

   — Perfeito, então. - minha respiração parece sumir no instante em que sua língua aparece entre seus lábios, molhando-os e depois mordendo a carne rosada.

   — Eu tenho que ir. - Preciso de um esforço enorme para voltar minha atenção a minha bolsa. Pego um pequeno quadrado de papel onde está todas as informações da loja. Dou para Niall, que pega o papel e analisa. — O número além do fixo, que está no verso do papel, é o meu. Pode ligar qualquer hora.

   — Eu vou ligar, Kaya. 

   — Bom, então estou indo. - dou-lhe um último sorriso e me afasto com rapidez, quando minha mão alcança a maçaneta da porta sua voz me chama de novo.

   — Kaya, aqui está o meu número. - quando me viro ele está bem atrás de mim com um cartão na mão — Caso você tenha alguma dúvida sobre a tattoo. 

   — Obrigada, Niall.- digo pegando o papel e guardando em minha bolsa. Então, eu parto de vez da sua sala.

   Ando pelo pequeno corredor em passos longos, quando chego a recepção Greta não está atrás do balcão, agradeço por isso e saio pelas portas de vidro deixando o ar puro de Londres invadir meu pulmão numa tentativa inútil de tirar aquele cheiro de cravo e canela, que pareceu ter impregnado em meu corpo. 

   A sensação de estranheza permanece comigo, pensei que quando saísse de lá fosse passar, me enganei, continua comigo. Como se meu estômago tivesse entrando em turbulência, as malditas batidas rápidas do coração e o fato de fechar os olhos e ver aquele tom de azul. 

   Isso não pode ser normal. Estou oficialmente ficando louca, não posso ver um estranho e começar com esse tipo de paranóia. Mas esse sentimento não me é totalmente estranho, um porcento em cem, como se já tivesse sentido em uma pequena fração que foi esquecida com o tempo.

   Permaneço andando, tentando pensar em outras coisas enquanto minha cabeça fica martelando a ideia de que esse dia foi o mais anormal de toda uma vida, completamente fora do comum. Até mesmo para mim, que não sou exatamente o exemplo de normalidade, sei que esses sentimentos repentinos, esse alvoroço em minha mente, são loucos demais da conta. 


Autora: Ananda Leite.


Notas Finais:

E ai esta, o nosso primeiro capitulo de Fix Me <3
Espero que vocês tenham gostado bastante da Kaya, porque particularmente eu já adoro ela o suficiente para dizer que a amo. 
Eu estava, estou na verdade, bastante ansiosa para ver a reação de vocês a essa nova historia, o capitulo já estava pronto a bastante tempo, porém como vocês sabem eu estava sem internet, mas enfim os problemas se foram e estou de volta, logo mais pretendo postar coisas novas, lógico se meu tempo permitir.
Acho que isso e só o que tenho para dizer, aproveitem e comentem o que acharam! Estava com saudades de vocês e do blog. Beijos e abraços! 

PS: Em breve Mavi e eu, postaremos nossos agradecimentos de Nympho!Fiquem de olho. 

-Ananda.

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